Vitamina contra a crise

Portugal faz-se representar na Feira Internacional de Macau com 63 empresas que querem arrancar para a China, sem descurar Macau como força motriz neste empenho. Vinhos, azeites, chouriços e queijos prometem fazer as delícias dos visitantes nestes dois dias e atrair investidores para produtos de excelência.

Exportar é a palavra de ordem da representação portuguesa na Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa), aberta a visitantes, no Venetian, até domingo. Muitos empresários vieram de malas e bagagens repletas de produtos alimentares de qualidade, do melhor que as regiões vitivinícolas produzem, querendo mostrar as razões de terem um lugar nas prateleiras chinesas.

Esta é, de resto, a estratégia do Governo luso. O Secretário de Estado Adjunto da Economia e Desenvolvimento Regional, António Almeida Henriques, serviu de porta-voz da comitiva de 63 empresários portugueses. “As exportações são uma vitamina contra a crise”, exorta. E esse é o caminho a trilhar passo a passo. “Há mais três mil empresas a exportar em Portugal no último ano. Se olharmos para o crescimento das nossas exportações, estamos em 2012 a crescer acima dos 10%”. O Pavilhão de Macau – “Business on the way” – agrega montras de mais de duas dezenas de produtores de vinhos, outros tantos de produtos agro-alimentares, têxteis e indústrias criativas.

A Quinta Vale do Armo e a Manuel Hespanhol são duas empresas pequenas de vinhos que vêm procurar o grande salto para a internacionalização asiática. Verónica Leitão e Ana Hespanhol são as representantes, respectivamente, das duas marcas e, com sorrisos abertos, mostram confiança na aposta no mercado externo. “Acho que é possível a entrada em Macau, Hong Kong, e não na China para já porque não faz sentido trabalhar só com um importador ou agente num país tão grande”, explica a responsável de exportação da Quinta Vale do Armo. “Não temos ainda nenhum parceiro. Tenho várias reuniões agendadas e vários importadores com interesse. Nada é imediato mas é tudo uma questão de plantar a semente e depois ver o que pode crescer.”

De Carrazeda de Ansiães, no Douro, Ana volta a apresentar em Macau a Manuel Hespanhol, da Quinta do Zimbro. “Já tivemos cá o vinho em 2004 [um negócio único] mas depois houve uma quebra e agora é apalpar outra vez o terreno e começar a conhecer as especificidades do mercado”, conta, consciente. “Temos de ir um pouco mais além porque já há muitos vinhos portugueses na China e as grandes cidades já estão completamente lotadas. Acho que tem de ser feito um contacto planeado, para penetrarmos no interior da China.”

Antes da MIF, Ana Hespanhol foi convidada pela Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) a estar presente num colóquio promovido pelo Fórum Macau.

 

Foi você que pediu um gourmet?

Alberto Carvalho Neto, presidente da AJEPC, realça a qualidade dos produtos em exposição no certame. “Temos de mostrar que somos um país com capacidade de produção de qualidade e não de massificação apenas”, avança o também coordenador do Pavilhão de Portugal. “Se realmente conseguirmos enveredar por esta linha, poderemos ter, a médio e a longo prazo, uma estratégia viável que consiga considerar os nossos produtos como os produtos gourmet da Europa.”

E o Portugal Criativo pode entrar neste rol. Os bordados do Alto Minho, como os de Viana de Castelo, chegam-nos pela apresentação de Silvestre Mota, membro da Agência Inova, que divulga as indústrias criativas  – como artesanato certificado – de Portugal no exterior. “Estamos a colocá-los internacionalmente como produtos de grande qualidade e de luxo, por isso criámos uma plataforma através da qual se possa promover e comercializar internacionalmente estes produtos tipicamente portugueses”, revela.

Ao destinatário final, o produto é entregue com o selo de qualidade e a certificação de genuinidade, além de informação anexa sobre o artesão. “O chinês tem interesse pelo facto de este tipo de bordados serem muito coloridos”, salienta.

Descendo Portugal, um pouco mais para interior, no Fundão, encontramos produtos regionais diversos. Queijos, chouriços, cerejas, pastéis de nata com cerejas, compotas, entre outros, estão todos representados num stand do município, onde se congregam onze produtores para a promoção e comercialização dos produtos em bloco. Alguns com rótulo inovador. “Foi uma aposta nossa aqui com o povo macaense lançar os rótulos da sangria em lata e do vinho tinto em patuá”, explica Luís Canatário, da Vinolive. Mas, na manga, tem outra novidade de peso. “Flocos de ouro no azeite não apenas para torná-lo num produto gourmet e sofisticado, mas também com propriedades boas para a saúde”, salienta. É a primeira presença na MIF, mas as empresas do Fundão parecem vir revolucionar a oferta lusa.

 

“Macau estratégico”, diz Almeida Henriques

Almeida Henriques tem uma leitura muito clara de Macau a nível empresarial. “Macau é, para nós, estratégico”, explica o Secretário de Estado Adjunto da Economia e Desenvolvimento Regional. “Não só numa perspectiva de ser uma porta de entrada, mas também numa perspectiva de consolidação neste mercado.” E, neste momento, indica, há mais três mil empresas a exportar em Portugal no último ano, com as exportações para a China a aumentarem em 164%, sublinha. A vimaranense Leiper, de produtos têxteis, é exemplo disso. Arranjou uma intermediária em Macau há um ano e quer alcançar o mercado chinês, onde já dá os primeiros passos de bebé. “Queremos exportar para empresas, hotéis, aqui de Macau, Hong Kong e China. Mas ainda estamos a fazer contactos nesta fase ainda inicial. Teve aqui um senhor do norte da China, que está ligado a uma empresa que tem uma cadeia de lojas em Pequim e outras cidades, pelo que poderemos fazer parcerias com empresas chinesas [distribuidores] que já estão na área”, explica Maria Fernanda das Dores, representante da marca há um ano, e fluente em cantonês. O momento é crítico mas as empresas devem tentar a sua sorte no mercado asiático, aconselha Alberto Carvalho Neto, presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC). “Temos uma grande oportunidade através de Macau. O IPIM e o Fórum Macau têm dado um grande apoio a empresas portuguesas para se criar uma ponte, empatia e parcerias com empresas chinesas. Neste aspecto, desde que a gente se saiba proteger – atendendo a que há uma grande diferença cultural e económica –, o mercado asiático poderá ser uma mais-valia.”

In Hoje Macau (versão impressa), 19 de Outubro de 2012

 

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