Empresário leva missão chinesa a Portugal

Quase sozinho organizou uma delegação de 50 empresários chineses que vai a território português na próxima semana. Alberto Carvalho Neto tem em Macau a sua base para vender vinho e azeite no sul da China.

Não é a primeira nem será a última delegação de empresários chineses a visitar Portugal aquela que nos próximos dias aterra em Lisboa, para contactar com a realidade empresarial, sobretudo agro-industrial. Mas é, sem dúvida, uma das mais originais. Pelo menos, a forma como a delegação foi formada está muito longe daquilo que são os cânones da atracção do investimento externo.

Mais de 50 potenciais importadores chineses chegam a Portugal a convite de um empresário, que, por si só, juntou esforços e dinamizou todo o processo. O mais curioso é que este jovem empresário, Alberto Carvalho Neto, tem a sua base chinesa em Macau e em Hong Kong. “Devido à proximidade que temos, devemos eleger à partida Macau como uma plataforma sólida de entrada no Continente chinês, da mesma forma que a China, através de Macau e Portugal, vê uma boa porta de entrada na Europa e nos países PALOP”, entende.

“Portugal pode dar-se ao luxo de dizer que tem uma ponte feita, agora temos é de saber aproveitá-la. Sem dúvida que Macau é uma vantagem, mas a nossa maior vantagem é a alta qualidade dos produtos Portugueses”, declarou o empresário ao PONTO FINAL.

Os mais de 50 empresários vão estar no Salão Agro-Alimentar de Lisboa (SISAB 2012) entre os dias 27 e 29 de Fevereiro. Depois seguem para norte, para conhecerem onde se produz o vinho e o azeite, entre outros produtos, vários deles biológicos, que podem vir a importar a partir de Portugal.

A delegação junta empresários de Hong Hong e de Macau, mas também do interior da China. Duas dezenas provêm de Shenyang, por exemplo. “Os empresários são de zonas distintas, sendo alguns de Hong Kong, Macau, Cantão e de regiões como Xinjiang, Liaoning, Jiangsu e Guangxi. Estão receptivos aos produtos Portugueses, mas apenas dois deles trabalham pontualmente com vinhos portugueses”, explica Carvalho Neto.

 

Tudo começou há menos de cinco anos

Alberto Carvalho Neto, formado em engenharia pela Universidade de Trás-os-Montes, é o gestor de negócios da BCN, Branco Carvalho Neto, uma PME agrícola com algumas quintas na zona de Mirandela e especialista na produção de azeite. Também o vinho é um dos argumentos da BCN e Alberto foi desafiado a procurar a China como destino de exportação.

“A partir de 2009 comecei a ver a China como um potencial mercado a explorar. No início as oportunidades surgiram através de Hong Kong e fomos interagindo de forma a estabelecer boas relações neste mercado”, recorda.

O primeiro contacto “surgiu por convite de um empresário que tinha estado em Portugal, através de amigos comuns”. “Acabámos por nos conhecer e partilhar alguns projectos e ideias que hoje em dia continuamos a explorar”, lembra também.

A seguir veio Macau, “devido aos laços culturais ainda existentes, ao facto de existirem muitos consumidores portugueses e macaenses que procuram produtos de qualidade e às oportunidades que surgiram em visitas realizadas”.

Nos últimos dois anos, Alberto Carvalho Neto passou a ir ao sul da China entre três e quatro vezes por ano. “Como tal, fui aprofundando contactos e criando relações que permitiram convidar e incentivar um grupo maior a vir visitar o potencial de Portugal e dos seus empresários”, descreve.

Os convites para esta delegação surgem, pois, neste contexto, “após dois anos [2010 e 2011] a receber empresários chineses de diferentes áreas que procuram parceiros em Portugal, quer para exportação quer para investimento”.

Tratam-se, diz, de empresários “com diferentes interesses mas com vontade de conhecer os produtos alimentares portugueses, de entender melhor a nossa cultura e de potenciar relações comerciais. São de diferentes sectores tais como importadores, distribuidores, restauração”.

 

O apoio do Fórum Macau

Embora haja uma perspectiva de negócio individual para a BCN, a verdade é que a acção de Alberto Carvalho Neto nesta área ultrapassa muito a esfera pessoal ou a dimensão da própria BCN. O empresário tem sido apontado como exemplo por quem tem responsabilidades neste sector, já que há um sentido quase de missão e uma perspectiva de longo prazo que vão muito para além do que a própria BCN possa produzir.

“Nós, BCN, temos como principal objectivo consolidar a nossa presença no mercado do Sudeste Asiático como marca reconhecida de máxima qualidade e estar presente com parceiros que elevem os nossos produtos”, explicita Carvalho Neto. Mas, quando organiza uma delegação de 50 empresários os objectivos só podem ser muito mais vastos.

Aliás, foi também isso que o Fórum Macau viu neste empreendedor. Contactada pelo empresário, a coordenadora do gabinete de apoio ao secretariado permanente do órgão, Rita Santos, deu um empurrão que Alberto Carvalho Neto regista: “Aproveito para agradecer a disponibilidade e apoio do Fórum, no desenrolar dos problemas que tenham surgido nomeadamente na obtenção de vistos de empresários chineses para deslocação a Portugal”, já que o secretariado do Fórum “mostrou-se desde o início pronto a ajudar e a espalhar a mensagem”.

Ainda assim, os convites aos empresários que na próxima semana aterram em Portugal “foram emitidos pela BCN”. “Em Macau, o Fórum ficou de partilhar esses convites e organizar uma comitiva de empresários interessados na visita à SISAB e a produtores portugueses, de forma a poderem visitar pessoalmente adegas, lagares de azeite, fábricas de enchidos, queijarias, etc.”, revela Carvalho Neto.

 

Semear para depois colher na China

A BCN (que, como se recomenda, tem uma página na Internet também em chinês) exporta para o sul da China vinho e azeite. As dimensões da aposta, que no fundo tem menos de dois anos, têm vindo a evoluir, diz o gestor da BCN. “Temos de ter noção do tipo de mercado que temos pela frente. Macau, Hong Kong, Shenzhen e Pequim são mercados completamente diferentes e com noções de azeite e vinhos muito diferentes. Temos de apostar muito em provas de degustação e promoção dos nossos produtos”, alerta.

“É essencial conhecer o mercado, suas exigências e limitações de forma a podermos dar a conhecer os nossos produtos e logicamente o nosso país. Só assim poderemos crescer”, defende o empresário.

A ideia de investir, com paciência, no mercado chinês é muito cara ao responsável da BCN. Entusiasmou-o, na China, “a noção de que o mundo de amanhã será ainda mais ‘glocalizado’”. “Assistiremos a uma absorção contínua das duas culturas ocidental e oriental nos próximos anos, de forma que os hábitos alimentares e culturais estarão mais próximos, abrindo uma oportunidade de introdução de diversos produtos. E, como bom agricultor que sou, estamos a semear para poder vir a colher mais tarde os frutos do trabalho”, antecipa.

Para quem se aventurou há pouco na China ou quer dirigir-se a este mercado, Carvalho Neto recomenda “acima de tudo, conhecer o mercado, apontar os seus pontos fortes e fracos, procurar bons parceiros locais e ter noção de que terão de dar a conhecer os seus produtos a curto e médio prazo, para que possam estar presentes neste mercado a longo prazo”. “Definir uma estratégia é essencial”, sublinha.

E fica mais um conselho: “É necessário olhar para o mercado asiático como um mercado sério, com respeito e humildade, mas ao mesmo tempo saber defender o que é nosso, e nada melhor para o fazer do que os próprios produtores que conhecem e acreditam nos seus produtos”.

 

A relação com o azeite

Muito se tem falado da exportação de vinho português para a China, mas Alberto Carvalho Neto está apostado em dar a conhecer o azeite ao maior número possível de chineses. “O azeite é menos conhecido que o vinho, o que nos dá uma excelente oportunidade para educar o mercado. Hoje em dia a classe média-alta chinesa em determinados mercados já começa a procurar introduzir azeite nas suas dietas, mas ainda de uma forma muito reduzida”.

Segundo o gestor da BCN, “tal como o vinho, grande parte do azeite é consumido em restaurantes, sendo estes restaurantes ocidentais ou pró-ocidentais”.

Carvalho Neto nota que “países como Espanha, Itália, e mesmo Grécia, têm estado presentes em diversos eventos, de dimensões variadas, mas têm estado presentes na China. “Além disso, têm vendido bem o conceito de marca dos seus próprios países. Definiram uma estratégia de mercado e têm conseguido implementar as suas bases”, diz.

“Basta correr as lojas e supermercados e verificar a quantidade de marcas existentes com estas origens com as nossas. Devemos olhar para eles e tirar proveito de lições de marketing e promoção, de forma a podermos adiantar uns passos e inovar a nossa posição no mercado asiático”, incentiva.

Se o azeite ainda é um produto de nicho, e provavelmente nunca se banalizará na China, já o vinho tem um enorme potencial. “Acredito que sim. Mas temos de entender que estamos décadas atrás dos franceses, dos espanhóis e italianos. Penso que os nossos vinhos têm potencial de crescimento, não na massificação, mas nos mercados que realmente apreciem qualidade. Temos de saber aproveitar o que os outros países fizeram, ao dar a conhecer este produto e que investiram grandemente na sua promoção”, sugere Carvalho Neto.

“Devemos ter consciência que para ser forte neste produto, temos de saber vender a Marca Portugal e, para tal, é preciso promover o nosso País como produtor de qualidade, de forma a poder ser identificado como tal”.

In Ponto Final, 20/02/12

 

Para ver a notícia original, clique aqui.

Partilhar:

Ver também

16/ Abril/ 2023

Luanda acolhe 2ª edição da FIN Business Fórum Angola

17/ Abril/ 2023

Luanda acolhe reunião de empresários de lusofonia

21/ Abril/ 2023

Empresários e empreendedores do espaço lusófono debatem em Luanda entraves à atividade